São válidas as interpretações das Escrituras Sagradas quando provenientes de revelações extrabíblicas?
Uma das grandes revoluções religiosas que purificou a Igreja dos erros doutrinários foi alcançada pelo movimento protestante do século XVI. Trata-se do inalienável princípio da “Sola scriptura”, o qual estabelece que o universo da fé cristã gira unicamente em torno da Bíblia Sagrada. Portanto, a Bíblia deve ser interpretada com exclusividade absoluta pela própria Bíblia, especialmente porque “nada podemos contra a verdade, senão pela verdade” (II Coríntios 13:8).
Esse princípio máximo da cristandade bíblica, que também foi empregado por Cristo e pelos santos apóstolos, baniu da Igreja todas as doutrinas heréticas que não estavam em harmonia com as Escrituras Sagradas. Eliminou definitivamente todas as formas de interpretações extrabíblicas provenientes de tradições ou de supostas revelações sobrenaturais, muito comuns durante a Idade Média.
Qualquer modo de interpretação das Escrituras Sagradas, obrigatoriamente, tem que levar em consideração a harmonia sistemática das Escrituras: “À Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva”. (Isaías 8:20). Portanto, é falsa toda interpretação que contraria ou não leva em consideração todos os ensinos das Escrituras Sagradas.
Como os mandamentos, as regras e todos os demais preceitos bíblicos estão esparsos em toda a extensão das Escrituras Sagradas, então se torna necessário analisar a Bíblia “um pouco aqui, um pouco ali”. (Isaías 28:10), razão pela qual os intérpretes devem estudar as Santas Escrituras “conferindo uma coisa com a outra para achar a causa”. (Eclesiastes 7:27).
É claro que conferir um texto bíblico com outro, “um pouco aqui, um pouco ali” “para achar a causa” explicativa da doutrina, não significa simplesmente colecionar, ingenuamente, vários textos bíblicos para defender idéias pré-concebidas ou formar idéias particulares. Mas consiste em realizar uma rigorosa análise hermenêutica de textos bíblicos que tratam exclusivamente do mesmo tema, dentro do seu devido contexto, para então poder chegar a um resultado válido. Portanto, a junção “um pouco aqui, um pouco ali” consiste numa reunião de textos bíblicos temáticos, contextualizados e conexos. Tudo isso é necessário porque “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação”. (II Pedro 1:20). Somente assim, as Escrituras Sagradas são interpretadas pelas próprias Escrituras Sagradas.
Jesus nunca ensinou nenhum ser humano a confiar em quaisquer espécies de revelações sobrenaturais para “interpretar” as Escrituras Sagradas. Porém, orientou todos os Seus seguidores a praticarem o seguinte princípio: “Examinais as Escrituras”. (João 5:39). Jesus sempre remetia os crentes ao exame das Escrituras: “E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10:26).
Os crentes fiéis jamais esperaram por qualquer “revelação sobrenatural” ou “revelação extrabíblica” para compreenderem as Escrituras Sagradas. Mas eles a pesquisavam por conta própria: “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. (Atos 17:11). Esse é o espírito que todos os cristãos devem ter, para não serem enganados por falsos profetas.
O próprio Senhor Jesus Cristo nunca exigiu que alguém cresse nEle, simplesmente, com base em Suas próprias revelações mas, levava-os a examinar as Escrituras: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lucas 24:27).
Os santos homens de Deus nunca dependeram de qualquer espécie de revelação sobrenatural para lhes interpretarem as Escrituras Sagradas. Eles mesmos liam e procuravam compreender o sentido das Escrituras: “E leram no livro, na lei de Deus: e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse”. (Neemias 8:8).
A verdade é que ninguém pode confiar em revelações extrabíblicas ou supostas revelações sobrenaturais que visam “interpretar” a Bíblia Sagrada. O próprio Satanás conhece profundamente as Escrituras Sagradas e, transfigurado em anjo de luz, pode oferecer a interpretação que bem lhe convier, com o único propósito de enganar. A própria Bíblia Sagrada adverte aos seus leitores crentes contra a obra de engano dos últimos dias. Observe o que diz a Palavra de Deus:
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” (I Timóteo 4:1).
“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24:24).
“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci: apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Mateus 7:22-23).
“A Bíblia nunca será suplantada por manifestações miraculosas. A verdade precisa ser estudada, precisa ser pesquisada como tesouros escondidos. Não serão dadas maravilhosas iluminações à parte da Palavra, ou para tomar o lugar dela. Apegai-vos à Palavra, recebei o enxerto da Palavra, que torna os homens sábios para salvação”. (II Mensagens Escolhidas, 48).
Diante de tantas orientações e advertências bíblicas contra as manifestações do sobrenatural, como é possível, então, que alguém possa confiar a salvação de sua própria alma colocando-se nas mãos de interpretações provenientes de supostas revelações sobrenaturais?