Como pode um profeta, sob inspiração divina, expressar o que lhe foi revelado com as suas próprias palavras? Por acaso as palavras também não são revelações divinas?
A inspiração divina não atinge, necessariamente, a forma de expressão empregada pelo profeta para transmitir as ideias que lhe foram divinamente reveladas.
A realidade é que a inspiração divina limita-se ao âmbito do conteúdo da mensagem, mas a forma, o estilo literário e as palavras empregadas para descrever o objeto da revelação são produtos da mente do escritor sacro. Exceção é feita quando o profeta transcreve “ipsis litteris” as expressões empregadas pelo Senhor no momento da revelação.
Sobre a questão, Ellen White declarou o seguinte: “Se bem que eu dependa do Espírito do Senhor tanto para escrever minhas visões como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas” (I Mensagens Escolhidas, 37).
A maior prova de que os profetas sacros tinham plena liberdade para se expressarem está na enorme diversidade literária dos sessenta e seis livros que compõem as Sagradas Escrituras. Nelas encontram-se livros escritos em diversos estilos históricos (Josué, Crônicas, Neemias, Ester etc); em diversas formas poéticas (Jó, Salmos e Provérbios); em diversas formas epistolares (Romanos, Timóteo, Tito, Hebreus, Tiago, Pedro, Judas) etc. Além das diferenças de estilos, alguns livros proféticos costumam registrar as expressões ditas pelo Senhor.
Caso o Senhor houvesse inspirado cada palavra anotada na Bíblia Sagrada, então todas as nações do mundo teriam que aprender a língua original da Bíblia Sagrada para poder conhecer os vocábulos que foram divinamente inspirados. Todavia, não é isso que ocorre, porque o que foi inspirado foi a mensagem bíblica e não a expressão linguística.
A verdade é que as Escrituras Sagradas registram vários estilos literários, mostrando a influência de cada escritor sacro na produção da Bíblia. Com relação ao Novo Testamento, os vocabulários mais ricos aparecem nos escritos de Paulo e Lucas e os vocabulários mais pobres aparecem no evangelho de Marcos.
“Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem nem em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é tomado por pensamentos. As palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa. A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim, as declarações do homem são a Palavra de Deus”. (I Mensagens Escolhidas, 21).
As “informações” resultantes das revelações divinas são inspiradas, mas as “palavras” empregadas pelos escritores sacros são divinamente iluminadas. Isto ocorre para que os profetas possam expressar corretamente a revelação divina.
Diante do exposto, fica claro que os escritores sacros tinham a plena liberdade para se expressarem da melhor maneira que lhes era possível, sobre os temas que lhe haviam sido revelado por inspiração divina. Evidentemente, esses escritores se expressaram iluminados pelo Espírito Santo, mas sempre respeitando os limites de suas instruções formais e capacidades intelectuais.
Em resumo, a Bíblia Sagrada é um produto da inspiração do pensamento, e não produto da inspiração verbal. O que foi inspirado na Bíblia Sagrada foi a ideia e não a forma de expressar essa ideia. O que foi inspirado nas Escrituras Sagradas foi a mensagem e não a forma como a mensagem foi apresentada.